Farpas.
Ela juntou toda a sua leveza.
Era preciso ouvir, por mais que doesse.
Sentiu-se imbecil, usada, massacrada.
Sentiu-se burra, feia e abandonada.
Nada daquilo fazia sentido.
Ela o olhava, com olhos brilhantes e assustados.
Ele proferia palavras como se fossem lâminas,
Havia algo errado,
no lugar, nas pessoas, no barulho das conversas e da tv ligada.
Ele dizia a verdade.
A verdade é complexa. Densa.
Ela tomava mais um chopp. Escuro.
Fumava. Tentava jogar a fumaça para cima, para longe.
Que triste, que triste.
Ah! Quanta tristeza cabe num filtro de cigarro?
Ele juntou todo o seu cansaço.
Foi preciso falar, por mais que sofresse.
Sentiu-se frio, cortante, potente.
Sentiu-se livre, sincero, contente.
Pela primeira vez, havia um sentido.
Ele a olhava com olhos excitados e confusos.
Ela o olhava com olhos distantes e apáticos.
Não havia nada de errado,
tudo comum, como em qualquer lugar.
Ela engolia as pseudo-verdades.
A verdade é simples. Fácil.
Ele tomava mais uma cerveja. Gelada.
Expulsava a fumaça ao redor com as mãos.
Que estranho, que estranho.
Ah! Quanto sentimento cabe, numa verdade escancarada?
retirado do :
http://www.indefinida.blogspot.com/